dropsss

8.26.2006

Zuzu Angel


Quem é essa mulher, Zuzu? Num país de muitos heróis e heroínas quase anônimos o filme Zuzu Angel inclui seu principal personagem em nossa história. O diretor Sergio Rezende nos conta a saga de Zuzu Angel com determinação num filme quase épico. Patrícia Pillar nos mostra quem é essa mulher, o seu talento, a sua beleza, a sua dor, a sua força e mantém, durante todo o filme, um nível de emoção altíssimo e contagiante. Para matar as saudades, o ator Nelson Dantas faz uma aparição magistral numa cena onde a sua fala é somente a sua expressão facial. Também são pontos altos do filme a linda trilha sonora de Zé Nogueira e Cristóvão Bastos e o figurino preciso de Kika Lopes. E ao final, Chico Buarque nos lembra quem é essa mulher, que canta sempre esse estribilho, que só queria embalar seu filho que mora na escuridão do mar. Uma história para ser lembrada ou conhecida, um filme para ser visto e vivido.

Estamira


Estamira toca um rebu, dá um sacode, embaralha e desembaralha idéias, conversa com deuses e demônios, rege a tempestade, confunde e esclarece, acolhe e rechaça, faz rir e chorar com sua hiper humanidade, sentidos aguçados e bastante lucidez. Isso tudo e muito mais está no filme de Marcos Prado cujo olhar e escuta sensíveis permitiu aproximar sua câmera muito mais perto do que os médicos, os religiosos, os familiares e outros que povoam a vida de Estamira. Vida essa, vivida no lixo, sustentada pelo lixo: lixo material e lixo social. As imagens voam como as nuvens, os urubus e as palavras de Estamira que formam uma espécie de dialeto caleidoscópico que subverte a língua e suporta idéias que vão até a beira do mundo.

A criança


A criança (L'Enfant) é uma produção belgofrancesa de 2005 que proporcionou aos irmãos diretores e roteiristas Jean-Pierre e Luc Dardene sua segunda Palma de Ouro em Cannes, a anterior foi em 1999 com Rosetta. A estória sobre a chegada de um filho inesperado de dois jovens que levam uma vida mambembe é contada sem rodeios, de forma seca e direta. Exibe o tênue limite do humano e do desumano, mostrando, aliás, que tudo é humano: o bem e o mal, a beleza e a feiúra, o beijo e o soco. Mostra também os personagens com visões, sentimentos e ações totalmente diferentes sobre a criança que surge em suas vidas onde tudo vira coisa e as coisas viram moeda. A câmera ágil somente foca os personagens e o que vale é o que eles dizem, pouco aparece o que eles vêem ou pensam, quase um mundo da não subjetividade. É um filme político como todos que ganham Cannes e passam como meteoros por aqui.